sábado, outubro 04, 2008

Passou a menina e o taradão de imediato sussurrou adoraria ejacular no teu reto. Ah, taradão. Mas a menina tinha mesmo uma cauda chamativa e saudável. Entrei no bar, a velha perguntou o quê? Respondi com os olhos. Dentro, dentro. Ah, forno. Errê tiro certo. Puta puta que me valha. São três pilas. Trate de arrumar um trampo, faça-me ao menos um dia feliz, compre preservativos, não me diga canalhices, você, velho, será sempre isso aí, esse cocô aí... Dentro da calcinha foram os três pilas, tomei o ônibus pra descer vinte minutos depois, igreja, é aqui, cheguei, eu cheguei, e chegou-me a hora, oi, boneco, quebra mais essa treta, descola uma buça ardente, novinha, melada, vermelha demais, vai, boneco, manda um sorriso doce.

segunda-feira, julho 07, 2008

Viagem. Novidade que tira a atenção do sujeito dele mesmo ou de um troço que não lhe deixa a cabeça. Tende a tirar, porque tem vezes que nem a enxurrada de novos estímulos externos da viagem desconcentra o cara de uma idéia persistente. Vai espairecer, vai pra praia.

A criança, por oposição ao adulto, é vazia de si. Seu mundo é o externo, tudo é novo, e esse novo ocupa toda sua atenção. Quem viaja fica meio criança.

sexta-feira, julho 27, 2007

Dei pisca à esquerda e parei. Na janela veio uma voz arfante: o senhor vai pra Curitiba? Respondi que não, que entraria antes; mesmo assim, o garoto e a menina, dois cães de rua, entraram no carro, iriam até onde eu fosse. Antes da parada, antes de parar o carro para o garoto e a menina entrarem, bem antes, eu vinha me perguntando onde acharia alguma diversão, se as bocas daquela estrada seriam assaz ferozes ou eu poderia suportar os hálitos, as palavras desenganadas e as quedas implacáveis do restante de seus corpos, ah, Dorinha!, eu suspirei, puta, esta sim, puta algoz, surrupiando os meninos que fui, minhas primeiras cédulas para ver dela só os montinhos, aos doze, montinhos, com treze, pêlos e saliva, com treze ainda o frenesi truculento e lascivo, sucos, babas e pingos de nós, ah, Dorinha puta! Saudei os caroneiros, acendi um cigarro, a menina fez cara de nojo, e partimos. Mal se instalou no banco, o garoto disparou a narrativa, contou-me do trabalho num mercadinho, da vila onde morava no Rio Grande do Sul e da briga com a mulher, motivo pelo qual estava agora andarilhando com a menina, o garoto fora expulso de casa, a briga na semana passada lhe rendera um galo acima do olho esquerdo, ó só!, ele apontava a testa, e dizia estou na rua com a menina, pretendo ir e ficar uns tempos na casa de um parente no Paraná, até sossegar a raiva da mulher. E a menina, é sua filha?, questionei. O garoto disse que não era filha, aparecera do nada um dia à noite e acabou ficando, vivia com o casal gaúcho havia três meses... Nessa hora, o garoto se virou para a menina no banco de trás, fez uns gestos e balbuciou alguma coisa lentamente. Escutei um resmungo gutural e, pelo espelho, vi a menina dar um soquinho no ar, com o polegar para o alto. O garoto me disse que ela não tinha compreendido nossa conversa, mas que agora ele já tinha explicado tudo a ela. Não entendi o que o garoto quisera dizer com aquilo. Ela parece pequena, né?, disse o garoto meio rindo, mas é só na cara, já tem quase dezessete essa guria!, e completou, é surda a bichinha, é surda e muda, não dá um pio, nunca, nunca. Mirei de novo o retrovisor e vi a menina mordendo os lábios, talvez ansiosa por saber o que o garoto acabara de me contar.

segunda-feira, maio 21, 2007

Pra que mentir, pra que mentir?, eu dizia assim com a canção rodopiando minha cabeça, rodopiando porque tinha bebido um pouco a mais, pra que mentir?, isso eu não sei por que repetia, se era só por causa da canção, se era culpa do bar, ela então pediu que abrisse meu zíper, queria encará-lo de frente, ali, bem assim, de frente pro meu, seu nariz quase tocando, a boca dela se assanhando, uma língua imensa, de um país insurgente que repelia sons que eu podia conhecer, ah safada!, mas tudo isso era só minha cabeça rodopiando, culpa do bar que me serviu tão bem, escute, maravilha, eu disse à garçonete gostosinha, você precisa parar de me perguntar se quero mais alguma coisa, você precisa me mandar embora, e me levar, quem sabe... e a gostosinha já estava servindo a mesa da frente e eu contando o dinheiro para me despedir. Eu te levo, fica mais um pouco.

sexta-feira, maio 18, 2007

Me deu um troço ao ver aquele corpo suado e ensangüentado. Não tinha os olhos abertos, a boca, sim, e falava algo com precisão, nada pra mim, eram gritos surdos, imitei os movimentos da boca e assim pude decifrar na hora algumas palavras, mas já não me recordo. Que era daquilo? Uma mulher sangrando deitada no chão frio, uma mulher deitada no chão frio se contorcendo com dor ou prazer, não sei, e suando, a mão fremia no núcleo de sangue, e eu não pensei em nada, meu rapaz, nadinha. A primeira coisa que vi foram os pés, estavam bem unidos, também agonizando, mas, diferente do corpo, eu tinha certeza que estavam gelados, puta frios; não, eu não pensei em nada, senti apenas o gelado daqueles pés conduzindo toda minha imaginação por um vácuo, uma massa de nada. Não troquei uma sílaba sequer com a mulher, quis lhe perguntar sobre o momento, mas fiquei quieto, muito importuno interrompê-la. Lembrei o que ela disse num dos gritos surdos, ela disse amado!, sem me olhar, foi isso, amado, eu preciso de ti!, e em seguida se desfez no sangue, acho que foi aí que vi bem seus dentes, até na boca tinha sangue, borrava o branco dos dentes, que momento de fúria!, eu disse ou só pensei dizer. Eu fiquei na porta, na porta aberta da casa, aquela mulher me desejava, por isso eu estava ali. Não me importei com a porta aberta, esqueci-a inclusive, me acocorei no chão frio, meio que sem entrar todo na casa, me acocorei e o zíper da jaqueta tocou o piso, o tempo se esfacelou comigo revisando na memória cada fragmento do desvanecer da mulher, ô, rapaz!, a hora que a mulher se perdeu no próprio sangue, lembra?, caso é que eu me demorei naquela posição, acocorado, a cabeça a captar a mulher sangrenta; na hora de levantar, tive dificuldades, uma dormência nas pernas e costas, as costas doíam forte, e eu disse isso à mulher, que não respondeu, talvez não tenha me ouvido, encasquetei aí ser eu o tal amado que a mulher chamara nos gritos surdos. Foi uma coisa besta, pois era a primeira vez que via a mulher; devo dizer, tive vontade de abraçá-la, me juntar a ela, tocar no seu sangue e morrer num sono lento e vadio, mesmo naquele chão gelado com a mulher suja de sangue e febril. Isso não ficou só na vontade, isso foi o que se deu. Tirei a roupa no ritmo da respiração da mulher, as meias, pensei deixar, mas quis ter os pés nus e gélidos como os dela. Daí me abaixei, daí fui perto, a mulher me pediu uma coisa com os olhos, botei de leve a boca na gota de suor no bico, impingi suavidade aos lábios, sugar, não suguei, mesmo assim, senti sal na mulher, meus dedos foram parar na sangueira, a mulher não se moveu.

segunda-feira, abril 30, 2007

São jovens, merecem perdão. Trabalham juntos há alguns meses, têm beleza. Nesta tarde, estão sós, e organizam o escritório. Ele tem mulher e filho, ela tem marido. Mas estão próximos demais, ó deus, qualquer um os perdoaria! Abaixados, revisando documentos, o hálito dela, sem saber, acaricia seu rosto e atrai seus olhos para o colo. Algo mudou, ele já não apenas pensa no ofício, o pulso é outro. Ela continua a conferência, mas está bem ciente da mudança de seu colega. Dissimulada! Pronto, bastará um início de sorriso dela para o desenlace. E vai acontecer, ah, eu sei que vai, e será assim que ele despejar aquela pilha de papéis sobre a mesa dela. Preciso referir, o jogo todo está mais na mente de ambos do que em suas expressões. Alguém que acompanhasse tudo de fora, concluiria que trabalham e nada mais. Mas na mente de nossos dois jovens o trabalho é agora parte da trama. Ela está na mesa, leitor, ela está de pé mexendo em algo sobre sua mesa, lá vem ele com os papéis, ele diz alguma coisa, ela olha, ele olha, ela abaixa o rosto, mas já lhe escapuliu aquele meio sorriso, nada mais que fazer, vem o perfume, o batom, as mãos querem negar, não podem mais, e se entregam num furor que prediz os minutos seguintes, que força contida!, de onde tamanho desejo?

quinta-feira, abril 26, 2007

Gostas? Ela olhou o mar, rasante gaivota, tremulou os lábios sadios e coçou o peito, pela borda. Que gente gostosa, me disse. Saradões de tatoos e popozudas. Fui dizer que ainda gostava dela, mas no meio disso me vazou duas bolinhas de saliva que acompanhei, desordenadas, uma na mesa do boteco, a outra eu perdi. Lembras que falei em casamento em junho de 2003?, perguntei. Não, ela respondeu em escárnio, só recordo de me perguntares o tempo todo se eu queria um leitinho quente. Cuspi toda cerveja e tossi. Ridículo. Tenho tesão por ti, João, me falou no ouvido, lambi sua língua tentando o rabo daquelas últimas palavras. Por que nos separamos?, o garçom questionou. Diga Lívia, diga a ele, diz João, diz a ele por que nos separamos. Nos separamos porque nosso amor se pesa em metros, em dor, em falta, em esquecimento, em corrosivos ciúmes, nosso amor é amor ao tempo que nos apaga.